Nossa história

O grupo Clã do Jabuti foi fundado em 2011, ainda na SP Escola de Teatro e de seu primeiro processo de investigação surge a peça “Não vim no mundo pra ser pedra”, com dramaturgia de Airá Fuentes Tacca. Em 2015 o grupo se debruça sobre um novo processo de criação que resulta na peça “Eleguá menino e malandro”, com direção e dramaturgia de Antonia Mattos, fundadora do grupo.  A peça circula nos anos seguintes por vários equipamentos de cultura da cidade e do interior, se apresentando também pelos quilombos do Vale do Ribeira. Em 2018 o espetáculo recebe o Prêmio de incentivo ao Teatro infantil e jovem como MELHOR TRILHA ORIGINAL de 2017. Em 2019 o grupo é contemplado com 34ª ed. da Lei de fomento ao teatro com o projeto “Yayás – Reinados de festa e encantamento – Em busca de um teatro brincante” para realizar diversas ações na cidade entre elas a pesquisa e a estreia do novo espetáculo do grupo. 

 

O Jabuti simboliza esse grande elo de ligação entre a cultura dos povos originários do Brasil com os povos negro-africanos. Aqui e lá ele é representado como a personificação da artimanha. A pesquisa do grupo parte de um pensamento marioandradino de identidade brasileira e se expande para um pensamento Transatlântico afro-brasileiro. A principal inquietação do grupo desde o início é  trazer bases cênicas que saim do eixo eurocentrado investigando um teatro que possa partir das histórias sobre a ancestralidade brasileira, sobre a formação dessa identidade juntamente com todas as suas contradições. Por isso a maior influência estética é a busca por um teatro alicerçado nas brincadeiras, brinquedos e manifestações populares brasileiras.

 

A propriedade musical é o traço mais forte presente nos espetáculos do grupo, essa é uma das características fundamentais na encenação da diretora Antonia Mattos que encontra sua maior parceria no diretor musical Jonathan Silva. Seja a música sagrada e ou tradicional advinda de cantigas dos brinquedos populares, sejam ritmos advindos da diáspora africana, sejam as composições originais, a música é um forte elemento narrativo.  A outra grande parceira do grupo é o Espaço Cultural CITA – Cantinho de integração de todas as artes, ocupação realizada por vários artistas entre eles o Maracatu Ouro do Congo, o grupo C9 de iluminação, o Bando Trapos, entre outros, que está localizado na região do Campo Limpo onde o grupo está sediado.

O grupo Clã do Jabuti em seu primeiro processo de investigação encontra a obra de Mário de Andrade presente nos livros de poemas “Clã do Jabuti” (que deu nome ao grupo), “Carro da Miséria”, e o romance rapsódia “Macunaíma”. A partir da pesquisa de Mario em “Macunaíma”, o grupo percebe a intertextualidade estabelecida entre os mitos africanos e o texto do modernista brasileiro, criando assim um protagonista que apresenta grandes semelhanças com o arquétipo de Exu. Essa descoberta gera a pesquisa seguinte sobre a figura de Exu, segundo o olhar da mitologia afro-cubana que resultou em um espetáculo sobre essa divindade tão caluniada e injustiçada do panteão afro-brasileiro. Após alguns anos tendo como alicerce metafórico a tradição da oralidade pós diáspora África-Brasil-Cuba, o grupo se debruça agora sobre o imaginario do território mítico Cariri e seus reisados de bois e caretas. Segundo Oswald Barroso, o reisado é essencialmente um teatro nômade, peregrinal, processional, ambulante, uma grande narrativa desenvolvida por um grupo de brincantes, sem começo ou fim, na busca interminável da utopia.

Para nós do grupo Clã do Jabuti a prática teatral é em si pedagógica  e  o  processo  pedagógico  é  em  si  criativo.  Dentro  do  processo  de criação  na  perspectiva  pedagógica  e  dentro  do  processo  pedagógico  na perspectiva  da  criação,  estamos  todos  mergulhados  em  um  processo  de aprendizagem  mútua  e  de  descobrimento sendo intérpretes e sendo público.  A  invenção e a inquietação conduzem o processo de construção do tecido da encenação em relação ao nosso tempo presente.