No Terreiro de Yayá

“Dia de reis aqui dura um mês

De dezembro a janeiro, os reisados pintam as ruas

De vermelhos, amarelos e azuis. Tudo reluz.

Tem mestre, rei, rainha-menina e palhaço.

Tem coroa que brilha e luta de espada afiada.

E tem o tum-tum-tum da zabumba.

Um som que bate dentro da gente”

As festas e os brinquedos populares são o principal foco de pesquisa da encenação  que vai partir da etnografia literária e do versejar de realidades sonhadas presentes  no livro “Terra De Cabinha: Pequeno Inventário Da Vida De Meninos e Meninas Do  Sertão”, de Gabriela Romeu. O livro traz histórias, versos e adivinhas presentes na  infância dos “cabinhas”, apelido dado às crianças na região do Cariri. Nossa rainha, a  menina Maria habita a terra dos cabinhas que também é habitada por encantados,  mestres, reis, rainhas e palhaços.  

O que significa perder a infância? E qual é o rito desta passagem? Tudo isso pode  acontecer em meio a uma festa. Em que momento a menina Rainha percebe que  se tornou mulher? E sendo mulher ela pode continuar sendo Rainha ou a infância  é um reinado e para crescer é preciso abdicar da coroa? Diante  disso, trazemos como proposta de investigação uma encenação de encantamentos e encantados numa amálgama de teatro, risos, ritos e batalhas no espaço fantástico da criança investigando  

a festa como um lugar de experiência, e, portanto, de rito. Desejamos investigar os ritos de passagem, as brincadeiras, os causos,  

encantos, costumes, histórias e personagens do Reisado.

Nessa terra de cabinhas, chão primordial da infância, encontramos um Cariri  amalgamado de sonhos geológicos, mitológicos e crianceiros, de estética primitivista  e oralidade do repente, espaço tempo de nossa encenação-festa. Nesse sentido uma  das figuras mais emblemáticas da manifestação é o palhaço, conhecido na folia como  Mateus. Diferentemente dos corpos dos outros foliões, estes palhaços apresentam  um corpo leve, ágil, mesmo quando são pessoas idosas. Há uma dualidade muito bem  apresentada, onde sagrado e o profano manifestam-se em seus corpos performativos  e tais palhaços dançam, pulam, tocam, rolam no chão. São criadores excêntricos,  mascarados e com vestimenta e adereços marcantes. Esse será o principal material  da pesquisa de encenação nos corpos desses intérpretes que se propõem híbridos  ao cantar, dançar, tocar, narrar e interpretar. É esse lugar de encruzilhada do corpo  performativo da festa que desejamos trazer para interpretação e encenação.